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Uso de terapia hormonal aumenta risco de câncer de mama, aponta estudo

Uma meta-análise publicada no Lancet apontou que o uso de terapia hormonal aumentou o risco de câncer de mama em 26% em relação àquelas mulheres que nunca usaram: risco relativo (RR) 1,26, sendo um intervalo de confiança (IC) 95% 1,24-1,28. A análise foi feita a partir de 58 estudos prospectivos que incluíram 100 mil mulheres.

Pacientes que receberam a terapia de estrogênio combinado com progesterona (como levonogestrel, acetato de noretisterona e acetato de medroxiprogesterona) apresentaram maior risco, mas mesmo o uso de estrogênio isolado (estradiol ou estrogênio de origem equina) mostrou risco elevado. Naturalmente, o risco cresceu quando o tempo de uso da terapia hormonal era maior, assim como quando comparado entre aquelas que ainda usam os medicamentos àquelas que já interromperam.

Naquelas mulheres em uso da terapia por um a quatro anos, o RR foi de 1,6 versus 1,17, sendo maior para o estrogênio com progesterona. Já nas mulheres em uso por cinco a 14 anos, o risco relativo foi 2,08 versus 1,33. O uso diário quando comparado com o uso menos frequente também apresentou risco elevado de câncer (2,4 versus 1,93).

E na comparação entre terapia oral ou transdérmica? Tanto faz! Risco relativo foi 1,33/1,35 maior. Por outro lado, o estrogênio via vaginal não parece aumentar o risco (RR 1,09 com IC entre 0,97-1,23) mesmo em pacientes que usaram entre cinco e 14 anos, provavelmente pela baixa absorção sistêmica.

Não foi possível, porém, quantificar o risco do tumor em pacientes que pararam a terapia de reposição há mais de 15 anos.

Apesar disso, os pesquisadores conseguiram ainda avaliar o RR dos diferentes tipos moleculares, histologia e estadiamento do câncer de mama comparando a terapia combinada (estrogênio + progesterona) com a que possui apenas estrogênio:

  1. ER positivo : risco relativo 2.44 versus 1.45 (combinada versus estrogênio);

  2. ER negativo: 1.42 versus 1.25;

  3. Lobular: 2.72 versus 1.58;

  4. Ductal: 1.89 versus 1.25;

  5. Localizado: 2.07 versus 1.31;

  6. Avançado: 1.89 versus 1.35.

O risco se apresenta maior mesmo em pacientes que usaram os medicamentos por um ano e, considerando que o uso frequente no mundo ocidental seja por cerca de cinco anos, começando por volta dos 50 anos, isso aumenta de forma significativa a probabilidade de câncer de mama na idade entre 50-69 anos. Além disso, é importante lembrar que a obesidade contribui ainda mais e de forma independente para este risco, notadamente para aquelas que fazem uso da terapia de estrogênio com progesterona.

Apesar de a meta-análise ter incluindo apenas estudos prospectivos, vieses são inevitáveis e no mundo real as mulheres usam diferentes tipos de terapia de reposição hormonal (TRH) ao longo do tempo e de forma intermitente, o que pode complicar a análise de risco em base individual.

É importante destacar que no geral o risco é baixo, mas a terapia de reposição ou terapia hormonal causaram cerca de 1 milhão (de um total de 20 milhões de casos) de câncer de mama no mundo ocidental desde 1990.

Para mulheres sem história familiar e sem sobrepeso ou obesidade, cinco anos de estrogênio com progesterona começando aos 50 anos aumenta o risco de 6,3% para 8,3% em 20 anos, ou seja, um caso a mais para cada 50 mulheres em terapia. Se o uso é intermitente, o risco vai de 6.3% para 7,7% (um a mais em 70). Já se usa estrogênio isolado o aumento é só para 6,8% (0,5% ou um a mais em 200). Se TRH por 10 anos, dobra o risco. Se obesidade ou sobrepeso, o risco de desenvolver o tumor é maior per se, mas a terapia não aumenta ainda mais o risco.

O aumento de casos de câncer de mama em números absolutos não parece grande, mas é real. O estudo levanta sim preocupações em como manusear os sintomas da menopausa e requer dos médicos uma cuidadosa análise de risco-benefício antes de iniciar terapia hormonal em uma determinada mulher. Se os sintomas são severos e não houver uma contraindicação clara à terapia, uma reposição com estrogênio isolado deve ser iniciada em torno da idade da menopausa e limitada, se possível, a cinco anos. E, claro, a paciente deve ser avaliada pelo ginecologista ou mastologista regularmente para ser examinada e realizar sua mamografia anual de rotina.

Fonte: PebMed

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